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Foto do escritorBianca Peres

Adaptação por camuflagem. Existe no contexto microbiano?

É muito comum ouvirmos o seguinte:


"Fulano evolui, está mais responsável, arrumou um emprego, bla bla bla…"


Se você é biólogo, provavelmente torce o nariz ao ouvir isso. Afinal, nós sabemos que todos estamos evoluindo.


Aonde quero chegar. Evoluir não significa melhorar, significa sofrer MUDANÇA. Se a mudança é para melhor ou para pior, é outra história.


A mudança, no entanto, para ser propriamente dita como evolução, precisa ser sentida entre gerações. O crescimento natural de uma criança, por exemplo, não é evolução, é parte inerente do seu desenvolvimento.


Na teoria evolutiva, além de conceitos importantes como mudança e bipartição* outro, fundamental, é a adaptação. Isso me lembra de outro discurso que ouvimos bastante por aí:


"Os seres humanos são mais evoluídos que os outros animais".


Veja bem, essa é uma visão bastante antropocêntrica, pois se eu te jogar de um penhasco, (além de eu ser presa) você voará? Provavelmente não!


Vai, literalmente, quebrar a cara! Seres humanos podem ser mais COMPLEXOS, mas não mais evoluídos. Já os pássaros, são adaptados ao voo. Então, nesse habitat, ele se sairá melhor que nós, mesmo que seus sistemas não sejam tão elaborados como os nossos.


A adaptação, portanto, provê uma maior PROBABILIDADE de sobrevivência para uma espécie em seu hábitat natural.


A camuflagem, que auxilia na sobrevivência das presas ao torná-lo menos visível aos predadores, é um exemplo claro de adaptação. É muito fácil pensar em um animal camuflado na natureza, como uma borboleta ou o clássico camaleão.


E os microrganismos? Será que usam dessa estratégia para aumentarem sua sobrevivência? A resposta é sim! Só que eles não mudam de cor ou usam uniformes camuflados. Na verdade, os mecanismos são bastante sofisticados.


Tanto bactérias como vírus evoluíram diversas estratégias para escapar do sistema imune, seu principal predador. Para evitar que sejam detectados, uma das formas é camuflar sua superfície ou a superfície da célula por eles infectada. Bactérias, por exemplo, formam cápsulas, para esconderem a sua superfície. (Quem nunca quis uma capa da invisibilidade?)


Outra possibilidade é alterar moléculas da superfície, já que algumas são praticamente assinaturas e facilmente reconhecidas pelo sistema imune (ex: lipídeo A do LPS). Muitos patógenos Gram negativos modificam o lipídeo A para alterar as respostas mediadas por TLR4 (importantes na ativação da resposta imune inata).


A deriva antigênica é um mecanismo semelhante e consiste em variar as moléculas imunodominantes. Um modelo de estudo desse fenômeno é a bactéria Neisseria. A espécie N. meningitidis, por exemplo, pode expressar 13 diferentes imunotipos de lipooligossacarídeos ao alterar as estruturas terminais dos açúcares.


Os vírus também adotam essa estratégia. Para o vírus HIV e da Hepatite C, isso ocorre tão rapidamente que dificulta o desenvolvimento de vacinas. Até mesmo os vírus de DNA fita dupla, com suas polimerases extremamente eficientes no reparo do DNA, conseguem escapar seletivamente do sistema imune.


Existem diversos outros mecanismos anti-imunes que facilitam o desenvolvimento de infecções agudas e crônicas. Resta que sejamos mais espertos e rápidos que eles.

Como? Investindo em ciência!!!


*(uma espécie moderna é gerada pela bipartição repetida de linhagens desde um ancestral comum)


Referências

FINLAY, B.B.; McFadden, G. Anti-immunology: evasion of the host immune system by bacterial. Cell, v. 124, p. 767–782, 2006.

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