É provável que você já saiba que os microrganismos do solo têm papel primordial na ciclagem de nutrientes e na decomposição da matéria orgânica. Funções fundamentais para a manutenção da vida no solo e até mesmo em nosso planeta.
Existe, porém, uma comunidade microbiana de solos desérticos sobre a qual você, talvez, nunca tenha ouvido falar. As crostas biológicas do solo (CBS).
Quem compõe as CBS e porque elas são importantes.
Viver em ambientes desérticos não é uma tarefa fácil. É preciso se adaptar a condições de baixa umidade, alta incidência de radiação solar e altas temperaturas. E os microrganismos que conseguem tamanha façanha são chamados de xerófilos.
A difícil sobrevivência no deserto, torna o solo pobre em nutrientes. Não é surpresa, portanto, que os microrganismos predominantes sejam fotoautotróficos. Esses último correspondem aos organismos capazes de produzirem os nutrientes de que precisam por meio da energia solar. Afinal, tem luz do sol de sobra.
Dessa maneira, as CBS são compostas principalmente por cianobactérias, um tipo de bactéria fotossintetizante. Também abrigam fungos, líquens (associações de algas e fungos), musgos (vegetais muito simples) e bactérias que não fazem fotossíntese.
A matéria orgânica resultante do metabolismo das cianobactérias dá início a uma cadeia trófica capaz de ciclar os nutrientes e alterar a permeabilidade e textura do solo. As CBS, portanto, estabilizam o novo solo formado.
Um aspecto fundamental em áreas desérticas onde o processo de formação do solo é lento e pode ser rapidamente devastado.
O efeito das mudanças climáticas nas CBS.
Embora os microrganismos estejam adaptados às condições desérticas, o aumento da temperatura global e consequente diminuição da umidade relativa do ar, tem tido implicações na composição das comunidades microbianas encontradas nas CBS.
Em especial, na população de líquens que é a responsável pela captação de nitrogênio do ar (processo de fixação de nitrogênio) e pela transformação do elemento em uma forma que possa ser absorvida por outros microrganismos. Sem nitrogênio, o crescimento da comunidade fica limitado.
Até mesmo o dos vegetais. E, consequentemente, dos animais herbívoros. E, então, dos carnívoros. Vejam, portanto, que a reação é desastrosa e literalmente em cadeia. Na cadeia alimentar.
A consequência? Desertificação. Uma área improdutiva.
O que tem sido feito para mitigar esses efeitos.
Cientistas realizam o transplante dessas estruturas em locais mais prejudicados. No entanto, o efeito não tem sido suficiente para a recuperação dos líquens.
Existem também campanhas educativas. Nos EUA, por exemplo, é comum ver placas que informam os visitantes sobre os efeitos da destruição das crostas biológicas do solo ao ecossistema.
Essas medidas, porém, ainda são insuficientes. É preciso aliar tudo isso a estratégias mais efetivas de mitigação dos efeitos climáticos em larga escala.
Texto escrito em colaboração com Lavinia Dal’Mas Romera
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Referências
Pennisi, E. Climate changing is killing off soil organisms critical for some of Earth´s ecosystems. Disponível em: https://www.science.org/content/article/climate-change-killing-soil-organisms-critical-some-earth-s-ecosystems?utm_source=sfmc&utm_medium=email&utm_campaign=DailyLatestNews&utm_content=alert&et_rid=609228515&et_cid=4189883 . Acesso em: 12 de abril de 2022.
Pointing, S. B.; Belnap, J. Microbial colonization and controls in dryland systems. Nature Reviews. Microbiology, v. 10, 2012.
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