De maneira contrária ao que observamos no texto anterior, que discutia a formação dos biofilmes como uma forma de defesa em ambientes inóspitos, discutiremos, agora, o biofilme como uma maneira pela qual os microrganismos encontraram de habitar ambientes que contêm mais nutrientes, especialmente o corpo humano.
Microrganismos presentes em ambientes naturais são desafiados a todo momento com baixas concentrações de nutrientes, condições abióticas desfavoráveis e mudanças abruptas nas variáveis.
Por outro lado, o corpo humano representa um ambiente rico em nutrientes e relativamente estável em relação à temperatura e ao conteúdo de água e oxigênio. Dessa forma, o modo de vida séssil como biofilme parece mais vantajoso.
As evidências estão relacionadas com o grande número de estratégias que as bactérias desenvolveram para permanecerem fixas (não é à toa que é tão difícil encontrar uma estratégia antibiofilme, já que existem diferentes vias para produção de matriz).
As bactérias contêm diversas proteínas em suas superfícies capazes de ligá-las ao hospedeiro. Todas as fibronectinas, fibrinogênio, elastinas (entre outras) são coletivamente referidas como MSCRAMMs (do inglês, microbial surface componente recognizing adhesive matrix molecules) e têm importante papel na adesão inicial das bactérias a superfícies sólidas.
Outra evidência relacionada com a hipótese de que os biofilmes são mecanismos para auxiliar as bactérias a permanecerem no corpo humano, é a importância da regulação gênica das vias catabólicas do carbono na formação do biofilme. Quando a glicose ou outro carboidrato é abundante no ambiente, a formação de biofilmes é aumentada.
No entanto, em condições de escassez, as bactérias destacam-se do biofilme e tornam-se planctônicas. Esse processo é denominado de sloughing e a sua ocorrência sugere que a privação de nutrientes é um gatilho para as bactérias partirem em busca de um ambiente mais favorável.
No próximo texto analisaremos uma última hipótese que pode explicar a formação de biofilmes.
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